quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Exercício - A Raposa e a Cegonha

 
 
 
 
 
 
 
 
  A Raposa e a Cegonha

Exercício Proposto - Uma história tradicional nos tempos modernos


                “Mas Porquê? Porquê eu?”, era o meu principal sentimento nessa época. Como é que um raposo, manhoso tal como eu, poderia ter sido enganado daquela forma, por semelhante criatura, ser que não tem os pés na terra, que vive acima de míseros postes de electricidade e moinhos abandonados, uma… Uma… Cegonha!

                Devo dizer que a minha vida ficou sumamente destroçada após esse incidente, o das taças. Eu, cobrador sénior do meu departamento das finanças, havia-me dirigido à cegonha de forma a reaver uma soma considerável, o que não haveria de ser difícil. Afinal, eu seu um raposo e, dentro destes, um bem manhoso. Mas a técnica de aposta que utilizei… As taças… Ah, senhores, como diriam os bípedes primatas, “saiu-me o tiro pela culatra!”

                E assim me vi relegado a uma posição escriturária, condenado a fotocopiar, a carimpar, a fotocopiar, a carimbar, até ao fim dos meus dias!

                A verdade é que andava realmente deprimido.

                Até ao dia em que a minha esposa, raposa, me contou a última fofoca da floresta: a cegonha, essa maldita ave de verticais pernas, havia investido o dinheiro da dívida numa loja. Uma loja… De jarras! A mim só me apetecia abandonar de vez esta floresta, pegar na raposa, nos raposinhos e nos meus tarecos e viajar para um local sem seres volantes, um zoológico talvez…

                Mas a raposa, tal como eu, é bem manhosa. Obrigou-me a sair do meu estupor depressivo e visitar a loja.

                Lá chegados, olhei a montra. Jarras, de todas a s formas e feitios, desde as simples de barro, em tudo semelhantes àquela com que me havia enganado, até jarrinhas de cristal. Entrei… No interior, senhoras de todos os tipos alados, com bico. Colocavam os seus bicos nas jarras, experimentando-as. Foi aí que tive uma ideia… Olhei para a raposa. Sorriu-me.

                “Desculpe, dona cegonha”, dirigi-me à dona da loja, “teria algum jarro que eu possa utilizar?”

                Todas as clientes olhavam para mim.

                “Caro senhor, as jarras são só para aves!”

                “Pois bem! Isso é racismo!”

                A partir daí, sempre com o apoio da minha família e do meu advogado, foi um instante até incriminar a cegonha pela falta cometida e obter uma choruda indemnização por danos morais, que incluíra até a partida das taças do início.

                E agora só me resta fazer as malas. Com este dinheiro viajaremos até à floresta negra, a visitar uma familiar da raposa.

                Por isso é bom ser raposo. Manhoso, manhoso…

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