A Raposa e a Cegonha
Exercício Proposto - Uma história tradicional nos tempos modernos
“Mas
Porquê? Porquê eu?”, era o meu principal sentimento nessa época. Como é que um
raposo, manhoso tal como eu, poderia ter sido enganado daquela forma, por
semelhante criatura, ser que não tem os pés na terra, que vive acima de míseros
postes de electricidade e moinhos abandonados, uma… Uma… Cegonha!
Devo
dizer que a minha vida ficou sumamente destroçada após esse incidente, o das
taças. Eu, cobrador sénior do meu departamento das finanças, havia-me dirigido
à cegonha de forma a reaver uma soma considerável, o que não haveria de ser
difícil. Afinal, eu seu um raposo e, dentro destes, um bem manhoso. Mas a
técnica de aposta que utilizei… As taças… Ah, senhores, como diriam os bípedes
primatas, “saiu-me o tiro pela culatra!”
E assim
me vi relegado a uma posição escriturária, condenado a fotocopiar, a carimpar,
a fotocopiar, a carimbar, até ao fim dos meus dias!
A
verdade é que andava realmente deprimido.
Até ao
dia em que a minha esposa, raposa, me contou a última fofoca da floresta: a
cegonha, essa maldita ave de verticais pernas, havia investido o dinheiro da
dívida numa loja. Uma loja… De jarras! A mim só me apetecia abandonar de vez
esta floresta, pegar na raposa, nos raposinhos e nos meus tarecos e viajar para
um local sem seres volantes, um zoológico talvez…
Mas a
raposa, tal como eu, é bem manhosa. Obrigou-me a sair do meu estupor depressivo
e visitar a loja.
Lá
chegados, olhei a montra. Jarras, de todas a s formas e feitios, desde as
simples de barro, em tudo semelhantes àquela com que me havia enganado, até
jarrinhas de cristal. Entrei… No interior, senhoras de todos os tipos alados,
com bico. Colocavam os seus bicos nas jarras, experimentando-as. Foi aí que
tive uma ideia… Olhei para a raposa. Sorriu-me.
“Desculpe,
dona cegonha”, dirigi-me à dona da loja, “teria algum jarro que eu possa
utilizar?”
Todas
as clientes olhavam para mim.
“Caro
senhor, as jarras são só para aves!”
“Pois
bem! Isso é racismo!”
A
partir daí, sempre com o apoio da minha família e do meu advogado, foi um
instante até incriminar a cegonha pela falta cometida e obter uma choruda
indemnização por danos morais, que incluíra até a partida das taças do início.
E agora
só me resta fazer as malas. Com este dinheiro viajaremos até à floresta negra,
a visitar uma familiar da raposa.
Por
isso é bom ser raposo. Manhoso, manhoso…
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