Antique Baby Doll Head on a Book, Diane Irvine
Desafio de Escrita #5
Tema: Solidão
Data: 31 de Janeiro
300 Palavras
Bonequinha
Eu não
estou sozinha. Tenho-te a ti. Tu, minha filhinha, pequenina, pequenina,
filhinha de plástico, olhos sem vida mas ainda assim tão cheios de carinho. Por
isso, não estou sozinha.
Lembro-me
de quando te escolhi. Desde que me lembro que o meu maior sonho era ser mãe.
Não era ser esposa nem namorada, não. Era ser mãe. Não tinha de te carregar no
ventre, não tinha sequer que te parir, não. Só precisava de te ter e ser a tua
mãe. O meu sonho, ter um bebé, um bebé eterno, que nunca crescesse, para que
toda a vida eu pudesse continuar a ser uma mãe extremosa, mudando fraldas,
dando as papinhas, vendo o sorriso nos fininhos lábios da criança que tornaria
o meu maior desejo realidade. E foi quando, na minha puberdade, me
diagnosticaram um útero ausente, que o sonho se tornou realidade. Porque te
escolhi a ti, minha filhinha, bonequinha, pequenina, olhitos de vidro, mãozita
de silicone que aperto na minha.
Quando
comecei a carregar-te ao colo, teu corpinho minúsculo, sem genitais, sem
sistema gastrointestinal, articulações de mobilidade limitada, nessa altura as
pessoas começaram a afastar-se de mim. Não entendia, continuo sem entender.
Será que a vida de uma mãe, qualquer mãe, é assim? Não entendo mas não me
importo. Porque não estou sozinha e tenho-te a ti. Bonequinha, bonequinha.
Minha querida filha.
Ando
contigo pelas ruas e as pessoas olham-me. É maluca, é maluca. Talvez seja. Mas
de amor, sim. Tanto amor.
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