Young Woman Undressing by Jean Francois Armand Felix Bernard
Desafio de Escrita #11 (não, ainda não foi "decidido")
Tema: Um collant no metropolitano
Data: Ainda não foi "decidido"
300 Palavras
Um collant no metropolitano
“Vá
lá, a mãe já volta”, dizia ela enquanto me dava uma palmada na mão, que eu
insistia em manter agarrada à bainha do seu casaco. Com lágrimas nos olhos, eu inspirava
e expirava, com muita concentração, a minha cara a ficar toda vermelha e eu
pressentindo uma espécie de explosão. Numa loja de roupa dentro do metro, o meu
olhar focava-se numa cesta com collants, collants mousse embalados nas suas
embalagens rectangulares, ordenados por ordem de tonalidades de pele. Focava-me
na diferença entre as tonalidades de collants para evitar o grito que nascia
por baixo do meu tórax, a birra que eu achava merecida nesta ocasião.
A
minha mãe tirou um collant da cesta e comparou-o com as suas pernas nuas. “Sabes
que a mãe vai a um lugar importante, não sabes, portanto porta-te bem”, dizia
ele a aproximar-me junto dele, como se fosse obrigatório eu portar-me bem
quando a minha birra se queria soltar e eu já tinha tantas saudades, tantas
saudades. Ela tinha prometido, íamos ao Parque dos Índios e afinal não íamos, o
que era importante, para que é que ela precisava de collants nas pernas,
odeio-vos, odiei-os naquela altura.
Vi
a minha mãe a pagar o collant e de repente já não estávamos na loja, estávamos
nas escadas rolantes, a nova estação da Alameda, não me interessava nada a
estação da Alameda, eu nunca tinha andado de metro, andar de metro era horrível
e não estava nos planos andar de metro. O meu pai deu-lhe um beijo e ela
aproximou-se de mim. Recusei-me e aí sim, foi nessa altura que eu comecei a
chorar e o grito explodiu em partículas de baba e ranho.
Ela
foi-se embora na mesma.
Voltou
passados, não sei… Seis, sete dias? Mas eu na altura achava que ia ser para
sempre.